COMO NASCE UM “CAVEIRA”: O Sofrimento como Instrumento na Formação de um Policial de Operações Especiais de uma Corporação Policial Militar do Brasil
Resumo
O presente artigo tem por objetivo discorrer o processo de formação do policial de operações especiais de uma corporação policial do Brasil, onde se observa uma dinâmica de submissão do policial por um período de quatro meses a atividades que provocam intenso sofrimento físico e psicológico, inconcebíveis em outro contexto, mas totalmente naturalizados no que poderia ser denominado de verdadeiro nascimento de um agente especializado conhecido como “caveira”. Busca-se, portanto, estabelecer uma relação, de forma exploratória, entre imposição de sofrimento físico e psicológico e a noção de preparo para o exercício da atividade policial em situações especiais. Como pressupostos teóricos foram utilizados os estudos relacionados à socialização do indivíduo nas organizações (BOURDIEU, 2004; BERGER E LUCKMAN, 1996; FOUCAULT, 1999; CASTRO, 1990), visto que, que conforme demonstrado na pesquisa, ser um policial de operações especiais é o mesmo que integrar um grupo à parte em relação às corporações a que pertencem. Quanto aos aspectos metodológicos, a pesquisa teve objetivo exploratório e valeu-se de abordagem qualitativa. Para a coleta de dados foi utilizada a técnica de história oral (ALBERTI, 1989; CAMARGO, 1984). Os dados obtidos foram analisados a partir da técnica de análise de conteúdo em profundidade (BARDIN, 2005), buscando-se estabelecer a relação entre o discurso do entrevistado, a partir dos seus significantes, e o referencial teórico utilizado. Os achados evidenciaram a existência, de fato, de práticas deliberadas de imposição de dor e sofrimento aos participantes dos cursos de operações especiais, com o objetivo de seleção, socialização e depuração do sujeito.
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